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O silêncio que se escuta

O silêncio que se escuta

O silêncio é um barulho que os místicos e os ascetas conseguem escutar. É o som que brota do interior do ser humano que busca elevar seu espírito sem, segundo Mansur Challita, “medo de curvar-se diante do desconhecido e do sobrenatural e de conhecer a força e a beleza das aspirações elevadas que resistem às seduções da terra”.
 
Os Mestres da lei e os Fariseus ficaram em silêncio diante da cura que Jesus Cristo operou na vida de um hidrópico (que tem acúmulo de líquido em tecidos e cavidades do corpo): “Mas eles ficaram em silêncio… E eles não foram capazes de responder a isso” (cf. Lc 14,1-6).
 
Foi um silêncio que superou o preconceito da norma que escravizava um povo, por isso que “não podemos impedir a nossa mente de olhar, maravilhada, para um cego que recuperou a visão ou um paralítico que ainda, sem que nossa razão ou nosso saber possam explicar esses acontecimentos” (Mansur Challita), necessita de uma cura.
 
O silêncio espiritual serve, todavia, como purificação. “Por conseguinte, para o homem que pretende libertar-se do seu próprio “eu” é esperada uma árdua luta. Esta luta é entre o “eu” que pertence ao mundo com o “Eu” superior e ideal que possibilitará ao homem apresentar-se diante de Deus. Neste esforço, tal como declarou Jesus Cristo, o homem deverá submeter-se a si mesmo como também seus atos a um rigoroso exame. É necessário abandonar muitos bens mundanos para obter o tesouro celestial e submeter-se a prova do sofrimento para purificar sua vontade” (Panayiotis Christou).
 
Nesta luta contra todos os ditames deste mundo barulhento, caminha o silêncio que se perde na superação do preconceito: “Perdia-se em Deus como um rio se perde no mar”, nos ensina o admirador do monástico São Charbel (1828-1898), Paul Daher. O silêncio, portanto, permite ao homem voltar-se a si mesmo descobrindo sua grandeza frente ao mistério de sua purificação.
 
 
Fonte: Padre Joacir d’Abadia, Filósofo autor de 12 livros / WhatsApp (61) 9 9931-5433
 
 
 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 

 
 
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