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Lula: Sempre acreditei na sua inocência

Lula: Sempre acreditei na sua inocência, por isso sempre defendi a sua liberdade

Curitiba, 16 de novembro, de 2019.

Lula,

No “Crônica de uma morte anunciada”, Gabriel Garcia Marques anuncia já na primeira frase a morte do protagonista da história.

Pois eu, Lula, nesta primeira frase anuncio que deixarei de lhe escrever cartas.

Creio que consegui, nestes últimos três meses,  ser mais uma voz a denunciar as injustiças cometidas contra você.

Hoje é o segundo sábado de sua liberdade.

E, para não perder o costume, informo: há sol em Curitiba e a temperatura está amena.

Muitas pessoas têm perguntado pela minha identidade.

Respondo: sou de esquerda, mas não sou filiado a nenhum partido político.

Tenho bons amigos e o meu melhor amigo é filiado e militante do PT.

Moro (do verbo morar, por favor!!!) em Curitiba.

Sempre acreditei na sua inocência, por isso sempre defendi a sua liberdade.

E quando dava ia até a vigília gritar: “bom dia, boa tarde, boa noite e Lula Livre”.

Sei que você recebeu milhares de cartas e também quis escrever algumas.

Confesso que a decisão de escrevê-las não foi coisa simples, pensei mais ou menos uns seis meses.

Bem, aí, você já sabe o resultado: escrevi várias e pedi para o Viomundo enviá-las. Elas foram entregues?

Sabe Lula, algumas pessoas diziam e dizem que eu estava plagiando o Henfil. Lembra das “Cartas de mãe”, do Henfil?

Confesso, não plagiei, imitei.

Lula, como é a última carta peço um pouco mais de paciência porque quero abordar vários temas. Tudo bem, né?

Pois um deles é sobre Curitiba. Você ficou aqui 580 dias e nas cartas anteriores eu quase não falei nada desta cidade.

Sabe Lula, nós temos um prefeito, Rafael Greca, que acredita em contos de fadas, mas não gosta de artistas.

É bom dizer: o Greca não gosta é de gente, povo, principalmente pobre, isso ele mesmo já confessou.

Ele até proibiu apresentação de artistas de rua!

Acho que ele quer fazer de Curitiba uma cidade triste e está conseguindo.

Da rua tirou a música, a dança, o canto e os risos e colocou — claro que o Temer, Bolsonaro, Beto Richa, Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e tantos outros ajudaram– milhares de pessoas a viverem nas ruas.

Lula, a cidade está muito triste, mesmo.

Há milhares de pessoas esperando consulta com especialistas, às vezes até um ano.

Faltam vagas nas creches e o pior, acabou de cortar vagas das creches conveniadas.

Isso sem falar que trata muito mal os funcionários públicos, tanto que quer congelar os salários por dois anos.

Aqui, está muito triste e difícil viver. Até para casar a moçada tem que pedir dinheiro nas esquinas.

O Greca odeia povo na rua. Dias antes de você chegar, ele pediu e um juiz concedeu um Interdito Proibitório, instrumento jurídico para impedir o povo de se manifestar em apoio a você.

O Greca gosta de asfalto. Gente ele quer longe e sem direitos.

Lula, agora, desculpe eu me meter onde não sou chamado.

Como te disse, tenho amigos no PT, inclusive meu melhor amigo.

Ele anda preocupado com o Congresso que vocês terão este mês — é o sétimo, não é?

Ele acha que o debate está muito aquém das necessidades do PT, assim como dos rumos que o partido vai dar à luta política.

O PT, segundo ele, tem que definir que tipo de regime nós, brasileiros, estamos vivendo atualmente: democracia, Estado de exceção ou ditadura.

Se não acertar na análise e tirar um bom programa de lutas, será difícil mobilizar o povo para derrotar o Bolsonaro.

Ele acha que não tem que esperar final de mandato.

Segundo ele também, tem que derrotar Bolsonaro e Mourão. Derrotar nas ruas e conquistar novas eleições.

Não sei o que acha, mas você terá um papel importante neste Congresso.

Agora, o último tema, é só um comentário sobre Nuestra América.

No Chile, já faz um mês que o povo na rua luta por direitos. Neste um mês, há dezenas de mortos, mulheres estupradas por policiais e membros das forças armadas. Há centenas de casos de tortura, milhares de pessoas feridas e presas.

Lula, que tristeza a Bolívia. Faz uma semana que um golpe derrubou Evo (teu amigo, né?) e Álvaro. Lá, em pouco tempo também já tem mais de uma dezena de mortos e centenas de presos e feridos.

O Equador, depois de grandes manifestações populares contra as politicas neoliberais de Lenin Moreno, parece que voltou a paz da repressão: perseguições e prisões políticas e o povo silenciado por cassetetes, bombas, balas e coturnos.

Na Colômbia, a repressão é tanta e tão longa que parece esquecida. São centenas de assassinatos políticos todos os anos.

Até qualquer dia.

Certamente nos encontraremos nas batalhas pela democracia e pela reconquista dos direitos roubados do povo brasileiro nos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro.

Forte abraço

Jorge Sanches

PS. Obrigadíssimo a todos vocês do Viomundo por terem me ajudado a levar adiante essa empreitada. Com certeza também nos encontraremos nas ruas em defesa do Estado democrático de direito contra o autoritarismo crescente.

Fonte: Viomundo

 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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