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O Surto e a Psicologia

O Surto e a Psicologia

Professor há 22 anos, já tive duas crises pela profissão escolhida. Nas duas me salvou a psicologia…

Por Marcos Jorge Dias 

A primeira foi ao retornar a sala de aula após dois anos trabalhando na gestão pública. O choque de realidade da vida de professor me fez surtar de tal maneira que confesso cheguei a cogitar tirar a própria vida. Me salvou uma amiga psicóloga que me encaminhou para a terapia com um excelente profissional da rede pública que conseguiu, através da homeopatia, me tirar do fundo da vala. 

A segunda crise foi recente. Após a conclusão dos estudos e defesa da dissertação de mestrado. Durante o período dos estudos trabalhei como relator, apoio técnico e mediador junto a associações de moradores e sindicatos. Uma atividade que implicou movimentação geográfica e interlocução com diversos grupos sociais.

Ao retornar para sala de aula, achando que daria o melhor de mim por todo cabedal de conhecimento acumulado, eis que me deparo com uma realidade muito adversa da que sonhava enquanto professor. Não se trata de quantidade de alunos. Servi ao exército e sei o que é ter 200 jovens motivados e vibrando com uma atividade. Me decepcionou o método.

Não são salas, são celas de aula. Professor e alunos trancados, ainda que com ar condicionado, degladiando-se entre a chamada obrigatória e o conteúdo desconexo das realidades individuais de cada aluno.

Não conseguir dar o melhor mim, não suportei a sobrecarga burocrática posta sobre as costas dos professores. E como disse antes, no exército caminhei 20km com mochila carregada, fuzil e outros apetrechos, vibrando de euforia. Como professor, pedi arrego.

Surtei outra vez. Desta vez não pensei em suicídio. Mas morri um pouco, por me sentir frustrado, fracassado na profissão dita tão nobre que escolhi há anos passados. E mais uma vez me salvou a psicologia. Ao conversar com minha amiga psicóloga ela me tirou das costas o fardo da culpa pelo sentido fracasso.

Busquei novos rumos, outros fazeres, outros ares. Hoje, por trás do vidro, a salvo da loucura, do medo, da síndrome de pânico e das doenças que a docência provoca, observo a dor dos professores que estão em sala/cela de aula e penso que todos deveriam procurar um profissional de psicologia. Obrigado amiga psicóloga.

Texto e Fotos: Marcos Jorge Dias- Professor, Escritor, Poeta acreano. 

 

 

 

 

 

https://xapuri.info/elizabeth-teixeira-resistente-da-luta-camponesa/

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!


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