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O tradicional encanto das flores do Cerrado…

O tradicional encanto das flores do Cerrado nas bancas da Catedral de Brasília

Há pelo menos cinco décadas, desde os primeiros dias de Brasília, lá estão as mesmas flores do Cerrado, expostas nas mesmas latas vazias de tinta, organizadas sobre as mesmas bancas toscas de madeira, feitas pelas mesmas famílias de “paraíbas” que ali se instalaram desde o início dos anos 1960.

Por Zezé Weiss

Desde o começo da feirinha que se localiza entre a Catedral e o primeiro prédio ministerial da Esplanada, criada por pioneiros como Dionísio Ferreira de Medeiros, já fO tradicional encanto das flores do Cerrado nas bancas da Catedral de Brasíliaalecido, o negócio é tocado por poucas famílias – paraibanas e cearenses, tradição continuada também por poucas outras famílias, constituídas pela descendência das famílias pioneiras.

“Eu praticamente nasci aqui. Eu trabalho aqui desde 1966, quando tinha cinco anos de idade. Vim para cá com meu pai, quando minha mãe morreu, e daqui nunca mais saí. É isso que eu sei fazer, é isso que eu gosto de fazer”, diz Pedro, filho e herdeiro do pioneiro Dionísio na arte da lida com as flores do Cerrado nas bancas da Catedral.

João Batista Paulo, também artesão-florista, filho de Francisco de Paulo, outro pioneiro da feira, ainda na ativa, conta que o espaço, uma concessão da Arquidiocese de Brasília, reconhecido como patrimônio candango, só é renovado para a descendência direta das famílias originárias. “O ganho é pouco, não dá pra incluir mais gente”, diz João.

João conta também que as flores ofertadas são as mesmas de sempre, processadas artesanalmente com as mesmas técnicas, pelos próprios homens floristas, e que a grande mudança está na escassez da matéria prima. “Antes, a gente encontrava tudo aqui em Brasília. Agora, só mesmo indo pro Tocantins, pra Bahia e pro Norte de Minas. Isso exige muito mais tempo e gera um gasto danado”.

O que mais vende? Em dias normais, a campeã de vendas é a rosa-moeda esqueletizada, composta por folhas de uma planta cerratense conhecida como folha-moeda. Essas folhas, depois de desidratadas ao sol e tingidas em um cozimento com anilina japonesa (importada), são montadas em várias cores, em um processo minucioso que,O tradicional encanto das flores do Cerrado nas bancas da Catedral de Brasília segundo os floristas, leva dias.

Já na alta temporada, nos meses de junho e dezembro, o que mais vende são os arranjos de sempre-viva mescladas com outras flores e folhas, montados sobre base de cerâmica, e os de rabo de galo, um tipo de capim do Cerrado, que dispensa o uso de vasos. Os dois são comprados principalmente por turistas, “talvez pela facilidade de se embalar e colocar na mala”, conjetura João.

O negócio continua valendo a pena? João Batista diz que com o aumento do custo de vida – um dia de trabalho na feirinha gera um mínimo de R$ 30 de gastos entre transporte e alimentação – e a redução da demanda por conta da crise econômica, tem meses em que a conta não fecha, que é preciso “fazer bicos” fora da feira, mas que parar não é uma opção porque “as flores do Cerrado fazem parte da vida, da cultura, do próprio DNA de cada família”.

Como fazer, então? “Os mais antigos vão se ajeitando do jeito que dá. Já os mais novos estão explorando novas formas de venda. Eu, por exemplo, monto produtos com minha companheira Eva, que vão desde arranjos para ocasiões especiais até maquetes para festas de casamento, e estou me organizando para começar a vender pela Internet”, completa João Batista Paulo, o florista da nova geração, que pode ser contatado pelo zap (61) 9 8452 7994.


[authorbox authorid=”” title=”Sobre a Autora”]


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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