Padre Júlio denuncia exploração de pessoas em situação de rua na Virada Cultural de São Paulo P
Estruturas do evento estariam sendo montadas em situação precária; prefeitura nega irregularidades…
Por Brasil Popular
Em vídeo postado nas redes sociais, o padre está acompanhado de duas pessoas que tiveram as identidades preservadas e foram identificadas como pessoas em situação de rua. Eles afirmam que foram contratados para trabalhar na montagem de palcos e outras estruturas.
“Acontece que a gente trabalha 12 horas por dia, não é remunerado da forma que a gente tem que ser remunerado. A gente tá sendo humilhado aí, querendo só justiça e que paguem a gente da forma que tem que ser pago”, disse um dos homens.
Eles ainda disseram que recebem R$ 60 para esse turno de 12 horas de trabalho, além de uma marmita “fraquinha”. Segundo os dois homens, eles “fazem de tudo”, um trabalho “pesado e perigoso”, e se deslocam em vans com mais pessoas que a capacidade permitida. Além disso, segundo eles, quem se machuca “não recebe nada”.
Conhecido por seu trabalho junto à população em situação de rua na capital paulista, padre Júlio disse que não se opõe à contratação dessas pessoas para trabalhos como este, desde que “tenham EPIs, alimentação adequada, que tenham como recolher Previdência Social e se pague um valor justo”.
Após a denúncia, o Gabinete da Cidade, iniciativa recém-lançada e ligada ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) se uniu ao padre para protocolar denúncia no Ministério Público do Trabalho em São Paulo. O grupo afirma que pretende fiscalizar e propor políticas públicas para a cidade de São Paulo.
“Expressamos nossa perplexidade com a situação destes trabalhadores. Caso confirmadas, as condições de trabalho a que pessoas em situação de rua foram submetidas configuram uma violação clara de direitos humanos e um ataque à dignidade humana”, disse nota da entidade.
Outro lado
Em nota enviada ao portal G1, a SPTuris, empresa oficial de turismo e eventos da capital paulista e responsável pela infraestrutura da Virada Cultural, afirmou que não interfere na remuneração oferecida pelas empresas terceirizadas que fazem os serviços.
A empresa informou ainda que o contrato assinado com as terceirizadas obriga o cumprimento das normas trabalhistas e de segurança de todas as pessoas envolvidas.
A SPTuris disse que fiscaliza o cumprimento do contrato e que não havia identificado nenhum desvio no processo até o momento do envio da nota.
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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