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Paz para o Brasil

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A escalada de atentados e assassinatos nos obriga a retomar o tema da violência, embora devêssemos priorizar a discussão de projetos para o Brasil com a aproximação das eleições gerais, o horizonte de um novo mandato presidencial e de uma nova legislatura no Congresso, o mesmo nos estados. Certamente podemos dizer que a contenção da violência política é o primeiro item de programa para um futuro governo que preze o país…

Por Márcio Santilli/via Mídia Ninja

A execução de Marcelo Aloizio de Arruda, militante petista de Foz do Iguaçú (PR), por um fanático bolsonarista, Jorge Garanho, foi um caso grotesco de violência gratuita, doentia e chocante. Marcelo comemorava o seu aniversário, homenageando o seu candidato a presidente, enquanto Jorge decidiu assassiná-lo, assim como poderia ter chacinado familiares e amigos de Marcelo se não tivesse sido também atingido. A loucura do criminoso é a caricatura da loucura do seu “mito”.

Em 24 de junho, Vítor Fernandes, Guarani-Kaiowá de Amambai (MS), foi assassinado pela Polícia Militar, após a retomada da área de uma fazenda que foi excluída da demarcação da Terra Indígena de sua comunidade. Outros sete indígenas, inclusive duas crianças, também foram baleadas e internadas no hospital local.

“O que aconteceu na sexta-feira foi um massacre. Houve uma atuação ilegal da Polícia Militar. Não teve respaldo da justiça. Foi uma iniciativa da própria polícia. E o mais grave é que tentaram considerar os indígenas como criminosos. Colocaram essa narrativa de que os indígenas estavam fazendo tráfico de drogas. Distorceram para legitimar uma ação ilegal e a morte de uma liderança”, conta Eliel Benites, professor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e liderança Guarani Kaiowá.

Dom Phillips e Bruno Araújo | Arte: Cris Vector

Em 5 de junho, o indigenista Bruno Pereira Araújo e o jornalista britânico Dom Phillips foram assassinados na região de Atalaia do Norte (AM), numa retaliação contra operações de fiscalização, na Terra Indígena Vale do Javari, onde foram apreendidas toneladas de peixes e de tartarugas, além de destruir balsas de garimpo ilegal. Os suspeitos dos assassinatos estão presos em Manaus. Provavelmente, também estão envolvidos em ações de lavagem de dinheiro de quadrilhas do narcotráfico que operam na tríplice fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia.

Síndrome assassina

O vice-presidente, Hamilton Mourão, acha que o assassinato de Marcelo Arruda não deve ensejar exploração política, pois “casos como este acontecem toda semana”. Ele não percebe que a ocorrência semanal de crimes políticos banais expõe a decadência civilizatória sofrida pelo país. Não se vê contaminado pela naturalização de crimes hediondos.

Bolo de aniversário de Eduardo Bolsonaro com um revólver | Reprodução Twitter

O presidente Jair Bolsonaro declarou que Bruno e Dom se expuseram indevidamente ao visitarem comunidades ribeirinhas “sem escolta”. Assim como considera que nada tem a ver com o assassinato do Marcelo por um bolsonarista, pois “o histórico de atos violentos é da esquerda”. Ele finge que não percebe que o ódio que mobilizou Jorge Garanho é o mesmo que ele destila diariamente contra os seus adversários. E sugere que muitos petistas, ou adversários em geral, ainda poderiam ser eliminados sem alterar a preponderância histórica da esquerda nesse quesito.

É difícil entender como essas pessoas que ocupam o topo do governo no momento convivem com instintos tão criminosos, que lhes custa disfarçar. Devem sofrer para dissimular tantos crimes, o tempo todo. Mais difícil é aceitar que o nosso país tenha o presente destino. Que ventre obscuro da nossa alma coletiva teria parido esse gigante suicida? Seja como for, a hora de salvá-lo é agora, no processo eleitoral que se inicia.

Desarmamento

Pomba da paz

Não me lembro de outro governo com tão poucas obras e realizações. Mesmo governos de direita se promovem com a lógica perversa do “rouba, mas faz”. À luz dos últimos escândalos, que sacrificaram a educação e a saúde, vemos que, hoje, rouba-se e se desfaz. Os resultados mais expressivos do atual governo estão no desmonte do estado, do seu poder de fazer, a escalada da predação ambiental, do que o aumento do desmatamento é uma síntese, e a promoção de assassinatos em massa, pela fome, pela epidemia, pelo armamentismo e pelo ódio..

Um novo governo deve promover a paz. Desmontar palanques, desarmar espíritos e governar, atacando emergências acumuladas pelo país. O Congresso Nacional precisa rever os incentivos concedidos nos últimos anos ao comércio e ao uso de armas. As forças de segurança, em geral, devem rever, ou ter revistas as suas estruturas, processos formativos e focos de atuação, com a inteligência no comando da dissuasão. O exemplo tem que vir de cima.

Porém, a gravidade do momento histórico convida a sociedade civil brasileira a organizar um grande movimento de reunião, tendo a paz como objetivo principal. Uma grande campanha, que una as igrejas, as escolas, as empresas, os artistas, as organizações da sociedade, para restabelecer o respeito pelas diferenças. A diversidade é a força constitutiva do povo brasileiro e nós temos que aprender a aceitar e a conviver com as nossas próprias diferenças. E a paz é o nosso amálgama indispensável.

O Cerrado quer paz!

O poder desarmado

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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