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Pirahã: A língua

A língua mais interessante do mundo é a Pirahã

A língua mais interessante do mundo é a Pirahã

“Sem dúvida, a língua mais interessante do mundo é a Pirahã, a minha predileta”,  diz Rolf Theil, professor de linguística da Universidade de Oslo, na Noruega.

Por Eduardo Pereira

A língua do O povo Pirahã, que vive ao longo do rio Maici, na Amazônia brasileira,  virou febre entre pesquisadores linguistas e pesquisadores do mundo inteiro porque sua   pronúncia, gramática e vocabulário são  extremamente peculiares: pode-se pronunciar a Pirahã pela fala, pelo canto ou pelo assovio.

Embora nunca tenha tido contato com uma pessoa falante da língua Pirahã, Theil, que   consegue compreender o sistema tonal de mais de cem línguas diferentes, afirma que compreende a Pirahã por meio de orientações dadas por outro linguista, Daniel L. Everett, etnólogo inglês que viveu com esse povo indígena no meio da floresta. Everett explica que quando a Pirahã é assoviada, é como chupar um limão, ou como colocar algo azedo na boca.

Para Theil, é possível entender uma língua assoviada como a Pirahã, porque é um idioma bastante tonal, como o Mandarim.  Para o povo Pirahã, o tom de voz é tão importante quanto sons de consoantes e vogais. Na língua Pirahã a palavra “amigo” e “inimigo” é a mesma, porém o que diferencia um sentido ou outro  sentido é sua melodia que sua para pronunciá-la.

A comunicação baseada principalmente por meio de tons e ritmos não é exclusiva do povo  Pirahã. Existe na África uma língua por meio de batidas sonoras e outra, nas Ilhas Canário, à base de assovios. O que torna a Pirahã ainda mais interessante é que, nesse caso, o  som viaja mais longe e facilita, por exemplo,  um indivíduo a receber ajuda ao se deslocar pela selva.

A versão falada dessa língua se baseia em uma única consoante e uma única vogal, porém pronunciadas de diversas maneiras. Uma vantagem é que a comunicação de mensagens fica mais fácil quando há muitos ruídos ao redor, como no exemplo quando uma pessoa  faltante queira transmitir uma mensagem para outra pessoa do outro lado de um rio durante uma chuva forte.

A variação assoviada da língua é reservada aos homens caçadores e usada especialmente para confundir presas, que acreditam estar ouvindo pássaros. Segundo Theil, a expressividade por meio desse mecanismo é limitada, porém é bastante útil para transmissão de recados simples.

Os Pirahã vivem em pequenos grupos na natureza, aqui e agora. Não há conjugação de verbos para o passado ou para o futuro.

Sua população está estimada em apenas 350 indivíduos. Para Theil, isso pode explicar,  parcialmente, a ausência de palavras para representar números, cores e detalhes específicos sobre relações familiares e comunitárias.

“Há palavras que nós acreditamos serem totalmente necessárias, porém os Pirahã vivem perfeitamente bem sem elas.” diz Theil. Números, por exemplo, não são essenciais uma vez que não há comércio dentro da comunidade.

Números apenas se tornam relevantes uma vez que haja algo para trocar, como a troca de x gado para x barcos. A tradução para a palavra “dois” seria em Pirahã “uma quantidade um pouco maior.” Segundo Theil,  isso é comum em muitas línguas do mundo.

Tampouco usam substantivos singulares ou plurais, as palavras usadas para falar sobre um homem ou muitos homens são as mesmas, a frase só podendo ser diferenciada pelo contexto.

E há apenas três vogais e, no máximo, oito consoantes na língua Pirahã, ao contrário do inglês falado nos Estados Unidos, que  apresenta até 17 fonemas vogais. Porém isso não significa que a Pirahã seja uma língua simples. Para as pessoas estrangeiras, é um idioma extremamente difícil de aprender.

A língua contém um som que provavelmente não existe em nenhum outro idioma, uma espécie de “L” que usa a  língua para fora da boca tocando o lábio inferior. Isso, em si, não parece tão difícil de dominar. Porém enquanto há por volta de 14 variações para cada verbo em Português, em Pirahã há, no mínimo, 65.000 formas diferentes.

Há outras peculiaridades da língua Pirahã que não existem em nenhum outro idioma,  como a ausência de uma estrutura de cláusulas, ou seja, não há possibilidade de juntar mensagens diferentes em uma única frase por meio de combinação de palavras.

Por exemplo, em Pirahã uma frase como “Eu gostei desse peixe que você cozinhou e minha mãe adorou.”  não seria possível.  Você teria que dizer algo como “Eu gostei do peixe. Você cozinhou o peixe. Minha mãe adorou o peixe.” (E, para ser mais preciso, você teria que tirar o pronome de propriedade ‘o’ da frase.)

A falta dessa estrutura incomoda pesquisadores por contrariar a teoria de um dos linguistas mais famosos do mundo, Noam Chomsky, que estabelece que haja uma gramática universal interligando todas as línguas do mundo. O Pirahã é, assim,  uma fonte de debate no mundo acadêmico e certamente também um tema fascinante para muita gente nesse mundo.

Fonte originária desta matéria: ScienceNordic


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 

 

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Daniel Sales

No Brasil, devam existir hoje cerca de 200 línguas indígenas.

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