Um par de sandálias para o peregrino
Para Pedro Casaldáliga
Por Pedro Tierra
Um par de sandálias para o peregrino.
Seja quem for o peregrino que nos vem.
Um par de sandálias para proteger-lhe
os pés da áspera pedra dos caminhos.
Rústicas. Recortadas em couro e utopias.
Trabalhadas pelas mãos de perseguidos
que lavram, na sombra, a frágil matéria dos dias.
(Na larga história do tempo
a noite, sem saber, foi condenada
ao círculo perfeito da agonia:
mãe e coveira da manhã anunciada.)
Recolhemos sonhos, dores, esperanças,
polimos penas, tormentos, fúrias
e o impulso elementar de liberdade
que orientam os passos desse estranho peregrino.
Buscam o martírio? O martírio não se busca,
se vive. Como se vive
“la muerte que da sentido a mi vida…”
Percorrerão o pó dos caminhos,
a vasta geografia do drama urdido
pelos filhos de êxodo e da miragem.
Por nossas mãos que trabalharam
o couro, a borracha, as fivelas,
a fugitiva parcela de sonhos que cultivamos.
As sandálias do peregrino vão palmilhar
os desertos da alma, a impossível alegria do povo
para oferecer o bálsamo da palavra
e, quem sabe, os leites minados da lua
para nutrir como seiva
a esperança que nos mantém pulsando.
E para repetir com ele:
“me atengo a lo dicho: la esperanza”.
Pedro Tierra – Poeta da Resistência: “Poema recuperado de uma carta manuscrita a meu irmão fr. Airton Pereira OP. Provavelmente enviada do Carandiru, 1974.”
Salve! Pra você que chegou até aqui, nossa gratidão! Agradecemos especialmente porque sua parceria fortalece este nosso veículo de comunicação independente, dedicado a garantir um espaço de Resistência pra quem não tem vez nem voz neste nosso injusto mundo de diferenças e desigualdades. Você pode apoiar nosso trabalho comprando um produto na nossa Loja Xapuri ou fazendo uma doação de qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Contamos com você! P.S. Segue nosso WhatsApp: 61 9 99611193, caso você queira falar conosco a qualquer hora, a qualquer dia. GRATIDÃO!
Réquiem para o Cerrado – O Simbólico e o Real na Terra das Plantas Tortas
Uma linda e singela história do Cerrado. Em comovente narrativa, o professor Altair Sales nos leva à vida simples e feliz no “jardim das plantas tortas” de um pacato povoado cerratense, interrompida pela devastação do Cerrado nesses tempos cruéis que nos toca viver nos dias de hoje.
Comentários