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Genocídio contra indígenas: Podemos aceitar?

Genocídio contra indígenas: Podemos aceitar? – Não!

Após denunciar à Polícia Federal atividades garimpeiras e madeireiras criminosas na floresta amazônica, o indígena Benki Piyako, do povo Ashaninka, sofreu diversos atentados e ameaças.

Em apenas onze meses de governo, violência contra índios supera o registrado em 2018, segundo relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Em onze meses de governo, ocorreram 160 casos de invasão em 153 terras indígenas — 49 a mais do que durante todo o ano de 2018, quando foram registrados 111 casos em 76 territórios tradicionais dos povos originários. Os conflitos também se espalharam pelo país atingindo 19 estados contra os 13 do ano passado, onde os enfrentamentos foram concentrados na região Norte, especialmente no Pará, que liderou a lista com 24 ocorrências, seguido de Rondônia, com 17 conflitos, e Amazonas, com um total de 13.

Os dados constam do Relatório Violência contra os Povos Indígenas do Brasil, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), e evidenciam que a ofensiva sobre os territórios indígenas é crescente e preocupante. O número de assassinatos contra indígenas também aumentou de 111, em 2017, para 135 no ano passado, sendo que os estados com maior incidência foram Roraima (62) e Mato Grosso do Sul (38

“Demarcadas ou não – em sua quase totalidade, as terras indígenas encontram-se invadidas, depredadas e em processo de profunda devastação. Há, também, a inaceitável condição de centenas de comunidades indígenas que vivem sem terra, nas margens de rodovias ou acampadas em diminutas parcelas de terras estaduais ou municipais, em áreas degradadas e contaminadas pela poluição ou por agrotóxicos. Setores econômicos pressionaram as autoridades para que as terras indígenas fossem disponibilizadas aos vorazes anseios de lucratividade de um mercado predador”, analisa Roberto Liebgott, coordenador do Cimi Regional Sul e um dos organizadores do relatório. Para ele, o que está ocorrendo no país é o “genocídio dos povos indígenas”

Segundo o relatório, divulgado ontem, em Brasília, os povos indígenas enfrentam um substancial aumento da grilagem, do roubo de madeira, do garimpo, das invasões e até mesmo da implantação de loteamentos em seus territórios tradicionais. “Os povos indígenas, ao reivindicarem a demarcação de seus territórios, tornaram-se, no decorrer dos últimos anos, alvos a serem combatidos. Os discursos de
autoridades, como os do atual presidente da República, contrários à demarcação das terras indígenas no Brasil impulsionou invasões a essas áreas tradicionalmente ocupadas”, escreveu no prefácio do relatório Dom Roque Paloschi, presidente do Cimi e arcebispo de Porto Velho.

Se nos governos anteriores, como nas gestões de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff, os conflitos ocorriam, mas a tentativa era de legalizar a exploração nos territórios indígenas; no governo Bolsonaro, os “crimes são incentivos e depois transformados em fato consumado”, acusa Liebgott. O exemplo mais emblemático foi o Dia do Fogo, quando, em agosto passado, produtores rurais da região Norte do país iniciaram um movimento conjunto para incendias áreas da Floresta Amazônica.

Relatório do Cimi. Foto de Guilherme Cavalli- Cimiimi
Um total de 821 processos de regularização de terras indígenas aguardam decisão do governo. Foto de Guilherme Cavalli- Cimi

O ano de 2018 foi marcado pela omissão na regularização de terras indígenas. Com pior desempenho entre os presidentes da República, desde 1985, o então presidente Michel Temer assinou apenas uma homologação de terra indígena: a Baía dos Guatós, em Mato Grosso, que ainda teve sua homologação suspensa por decisão de um juiz federal. O desempenho do Ministério da Justiça não foi diferente. O então ministro da Justiça, Torquato Jardim, assinou uma única Portaria Declaratória de terra indígena: Kaxuyana-Tunayana, localizada nos municípios de Faro,Oriximiná e Nhamundá, nos estados do Pará e Amazonas. Já o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) à época, Wallace Moreira Bastos, seguindo a política de morosidade governamental, assinou apenas uma identificação. Nestes primeiros nove meses do governo Bolsonaro, nenhuma demarcação de terra foi homologada, como já havia avisado o presidente ainda durante sua campanha eleitoral.

Existem, no país, 305 povos indígenas, falando mais de 274 línguas, habitando 1.290 terras indígenas, sendo 408 homologadas e 821 em processo de regularização e/ou reivindicadas. Ontem, durante seu discurso na 74ª Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Bolsonaro reafirmou seu compromisso contra os povos indígenas. Ele disse que não vai aumentar as áreas indígenas: “Acabou o monopólio do senhor Raoni“, discursou, citando o líder indígena Raoni Metuktire, reconhecido internacionalmente e candidato a prêmio Nobel da Paz em 2020 devido  sua atuação em defesa dos povos indígenas e pela preservação da Amazônia.

.Fonte: Projeto Colabora

 

 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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