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Povo Guajajara

Povo Guajajara: Mal enterraram seus parentes sofrem ameaças de morte

Mal enterraram seus parentes, Guajajara sofrem ameaças de morte pelas redes sociais, no Maranhão

Vários áudios chegaram aos telefones celulares das lideranças com discurso de ódio de pessoas ainda desconhecidas, aumentando o clima de tensão na região onde mataram dois indígenasacima, imagem de enterro de um dos Guajajara

 Por: Elaíze Farias

Uma série de áudios foi disparada e compartilhada por populares em uma rede social neste domingo (08) para os celulares das lideranças indígenas Guajajara, que ainda estavam velando, na ocasião, os dois caciques assassinados no sábado (07), na rodovia BR-226 no trecho próximo à Terra Indígena Cana Brava, entre os municípios de Barra do Corda e Grajaú, no oeste do Maranhão. Os xingamentos, discurso de ódio e ameaças de morte foram enviados após o bloqueio da estrada pelos indígenas em protesto contra os assassinatos a tiros de Raimundo Benício Guajajara, 38 anos, cacique da Aldeia Descendência Severino, da TI Lagoa Comprida, e Firmino Prexede Guajajara, 45 anos, cacique da aldeia Silvino, da Terra Indígena Cana Brava.

Mais dois indígenas ficaram feridos. Os quatro foram atingidos por volta de 12h40 do sábado passado quando atiradores não-indígenas, que conduziam um carro Gol Branco, atiraram várias vezes contra o grupo que voltava de uma reunião com representantes da Eletronorte Energia na aldeia Coquinho. Os crimes aconteceram próximo da aldeia El Betel.

Indígenas Guajajara ouvidos pela agência Amazônia Real, e que pediram para não ser identificados por temer por suas vidas, disseram que os áudios mostram o grau de tensão e insegurança que domina a região.

Sem se identificarem, homens e mulheres trocam conversas e opiniões sobre os indígenas, chamando-os de “vagabundos” e “bando de safados” e acusando-os de “roubar e saquear” os motoristas que circulam na BR-226 e de “não influenciar em nada em Barra do Corda”.

Outros defendem a morte dos indígenas e esperam que o presidente Jair Bolsonaro atenda o objetivo:

“O Bolsonaro era para soltar o Exército no meio da mata, umas 50 carradas da PM, Civil, Exército, para matar tudo quanto era índio. Não era para ter nenhum índio da face da terra. Era para matar tudo”, diz uma voz masculina, sem se identificar.

Outro homem critica “quem defende índio” e demonstra o desejo que “Bolsonaro meta a taca nesse bando de índio vagabundo que fica querendo terra”.

“Por isso que sou a favor do Bolsonaro. Índio não tem direito a nada, índio é igual a gente. Principalmente esses da Barra do Corda”, diz ele, endossado por uma terceira pessoa, que diz: “A gente tem que ser a favor do Bolsonaro, tem que meter a taca nesses índios, mandar matar é tudo esses índios”.

O coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) no Maranhão, Guaraci Mendes, disse à reportagem que o “conteúdo de ódio” contido nos áudios já foi enviado à Polícia Federal. As declarações deverão ser incluídas no inquérito que investiga o crime do último sábado para que os autores sejam identificados. Ele disse que também vai enviar os áudios para o Ministério Público Federal no Maranhão e para o Ministério da Justiça. “É ódio escancarado nesses áudios”, disse Mendes à Amazônia Real.

Desde que tomou posse, o presidente da extrema-direita Jair Bolsonaro decidiu adotar um discurso de ameaças e ataques aos povos indígenas. Ele diz que não vai mais demarcar territórios, deprecia a cultura e os costumes indígenas e que vai autorizar a mineração em áreas indígenas. Bolsonaro também reduziu a estrutura da Funai e aparelhou o órgão indigenista com ruralistas, os principais inimigos dos indígenas. (…)

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) divulgou nota dizendo que “tais crimes, contanto ainda com atentados, ameaças, tortura e agressões ocorridas por todo país contra essas populações [indígenas], têm acontecido na esteira de discursos racistas e ações ditadas pelo governo federal contra os direitos indígenas”.

“O presidente Jair Bolsonaro tem dito e repetido, em vários espaços de repercussão nacional e internacional, que nenhum milímetro de terra indígena será demarcado em seu governo, que os povos indígenas teriam muita terra e que atrapalham o ”progresso” no Brasil”, afirma a nota do CIMI.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) divulgou nota nesta segunda-feira dizendo que “o clima de tensão, insegurança e perseguição contra os povos indígenas do Brasil só aumenta” e que “esses crimes refletem a escalada de ódio e barbárie incitados pelo governo perverso de Jair Bolsonaro, que segue nos atacando diariamente, negando o nosso direito de existir e incitando a doença histórica do racismo do qual o povo brasileiro ainda padece.”

Na nota, a APIB diz: “Estamos à deriva, sem a proteção do Estado brasileiro, cujo papel constitucional está sendo negligenciado pelas atuais autoridades. O governo federal é um governo fora da lei, criminoso em sua prática política e opera de maneira genocida com vistas a nos expulsar de nossos territórios, massacrando nossa cultura, fazendo sangrar nossas raízes”.

Fonte: Amazônia Real

Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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joseph s weiss

Os jornais dizem que Moro mandou a Força Nacional para proteger FUNCIONáRIOS DA FUNAI E NÃO ÍNDIOS – sabia. Se quiserem, vão matar mais ÍNDIOS.

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