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Floresta Ativa: Coletivo Munduruku

Floresta Ativa: Coletivo Munduruku é criado no Alto Tapajós para estruturar alternativas econômicas ao garimpo

Vinte e três aldeias mundurukus instituíram um Coletivo para atuar com produtos da socio biodiversidade amazônica na região do Alto Tapajós. Esse é um dos resultados da Oficina agroextrativista realizada nos dias 2, 3 e 4 de novembro junto com o Projeto Saúde e Alegria para levantar os potenciais produtivos da região e formas de organização, com vistas a estruturar alternativas econômicas ao garimpo, que gerem renda, valorizem as culturas locais e mantenham a floresta em pé, em meio a toda degradação, conflitos e consequências da mineração ilegal nos territórios indígenas…

Por Projeto Saúde e Alegria

A oficina aconteceu nos dias que antecederam o VI Encontro Pusuruduk, de 5 a 9 de novembro, na Aldeia Waro Apompu, rio Cururu, um dos principais eventos dos Munduruku, com a presença de mais de 300 indígenas, entre caciques, pajés, lideranças, educadores e parceiros.

Durante abertura do VI Pusuruduk, lideranças falaram sobre desejos para o coletivo e desafios para preservar cultura indígena. Fotos: Carlos Dombroski/PSA.

É parte do sonho dos povos tradicionais em conquistar segurança econômica a partir da coleta de frutos de espécies de valor comercial e manejadas na área, como castanhas, copaíba, produção de mudas, manejo de abelhas sem ferrão, criação de galinhas e demais produtos da socio biodiversidade. Eles solicitaram a visita do Projeto Saúde e Alegria para planejar as atividades produtivas potenciais e fornecer assistência técnica aos agroextrativistas. “Eles mesmos organizaram quase 70 lideranças do rio Cururu, Teles Pires e início do Tapajós, e a gente realizou as oficinas para começar a construir a organização, estruturação interna intercomunitária, definição dos coletivos, das articulações, responsabilidades, papéis de modo a poder avançar na estruturação dessas cadeias produtivas”, explicou o coordenador de Organização Comunitária do PSA, Carlos Dombroski.

Estamos felizes por ter dado um passo concreto num pedido do Cacique Geral Munduruku, Arnaldo Kaba, que nos visitou no início do ano juntamente com outras lideranças do Alto Tapajós em busca de apoio para projetos produtivos que respeitem a floresta, como contraponto a invasão dos garimpos em suas terras. Uma semente foi plantada nessa oficina, e esperamos que dê muitos frutos, literalmente”, reforçou Caetano Scannavino, coordenador do PSA.

A oficina na Escola Indígena de Waro Apompu reuniu 66 participantes de 23 aldeias. Durante os três dias de atividades, foram discutidas ações de mapeamento, coleta, plantio e capacitações regulares através do Programa de Assistência Técnica do Floresta Ativa do PSA. Um dos encaminhamentos foi a aprovação de um Coletivo que apoie a coleta da castanha, copaíba e cumarú, bem como a escolha da Associação Arikico como ente jurídico com CNPJ para atender aos requisitos legais para execução. Para o Coletivo que representa as 23 aldeias, foi instituída uma coordenação executiva e até a logomarca da iniciativa. Como definição da agenda de continuidade, decidiu-se por uma nova oficina, no período de 9 a 12 de dezembro, focada na cadeia da castanha e etapas a serem seguidas desde a coleta até a comercialização.

“É fundamental ter alternativas econômicas ao garimpo, mostrando que não se faz dinheiro só com ouro. O que a gente testemunha lá é que o ouro está beneficiando alguns poucos, e deixando a conta do estrago pra todo mundo pagar. Não se sabe pra onde vai esse ouro extraído de lá. Até porque se a gente olhar as sedes municipais, Jacareacanga por exemplo, se fosse um modelo de progresso, deveria estar 100% com saneamento, ruas asfaltadas, hospitais e escolas de primeira. Só que não, o que a gente vê é que o município está no andar de baixo dos indicadores sociais do país”, avalia Scannavino.

Uma das metas do Floresta Ativa é oportunizar para populações indígenas a formação para potencializar as atividades agroextrativistas em áreas de floresta. “Com apoio de infraestrutura e assistência técnica, será possível garantir a sustentabilidade da iniciativa”, explica o técnico Silvano Martins: “Eu acredito que com a implantação dos Sistemas Agroflorestais, eles conseguirão resgatar uma tradição que estava se perdendo. Eles gostaram bastante dos vídeos que apresentamos e solicitaram o apoio técnico para implantar os sistemas”.

Na primeira capacitação, agendada para dezembro/2022, serão entregues os EPIs para atuação em campo. “A reunião foi muito boa, produtiva. Nós, Mundurukus, ficamos muito satisfeitos para sustentar nossos filhos e proteger a nossa natureza. Isso que nós estamos precisando no nosso território. A gente fica na expectativa do próximo treinamento”, avaliou João de Deus Munduruku, coordenador eleito do Coletivo.

Encontro Pusuruduk: caciques, pajés, lideranças e educadores Munduruku constroem propostas para o território

Foram cinco dias de debates, reflexões, saberes e aprendizados no encontro de caciques, pajés, lideranças e educadores Munduruku. Um dos objetivos da assembleia é avançar na implementação do Projeto Pedagógico Indígena (PPI) e do Currículo Escolar Munduruku, de forma articulada com a realidade local, com a cultura indígena, que valorize as tradições, “para que os estudantes entrem na escola como Munduruku e saiam como Munduruku, não como pariwat” (homem branco), disse Edivaldo Poxo, professor indígena e um dos coordenadores do VI Pusuruduk.

Mais de trezentos indígenas participaram do VI Pusuruduk. Além da educação, discutiram saúde/saneamento, segurança alimentar, renda, conservação, vigilância, proteção, energia e internet. o momento, pois as propostas serão apresentadas agora para o novo governo. “O Projeto Saúde e Alegria vem apoiando esse evento, de suma importância, oportuno também por ser logo após as eleições. As propostas construídas poderão ser apresentadas para o novo governo. Eles sabem o que eles querem para o território. Nada melhor do que essa proposta vir deles, para poderem entrar na composição dos planos para políticas indígenas”, ressalta Scannavino.

Cinema na aldeia

Enquanto o filme “Amazônia, uma nova Minamata?” era exibido na abertura do Festival Latino Americano de Cinema de Alter do Chão (CineAlter), o documentário foi também apresentado no VI Pusuruduk, onde muitos puderam se ver na tela. Dirigido por Jorge Bodanzky e produzido por Nuno Godolphim, mostra a luta dos Munduruku contra os garimpos ilegais em suas terras, a degradação, a exposição ao mercúrio. Uma cópia foi deixada para eles organizarem circuitos de exibição nas aldeias.

http://xapuri.info/encontrado-fossil-dinossauro-penudo/

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 
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