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Brigada Alto Pantanal: necessidade permanente

Brigada Alto Pantanal: necessidade permanente

Brigada Alto Pantanal: pesquisadores, empresários, artistas e organizações se unem para criar brigada permanente

Por  Mônica Nunes

O Pantanal queima como nunca! De acordo com dados do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e da Nasa, desde o início deste ano até 20/9 (domingo), foram consumidos pelo fogo 3.179.000 hectares, o que equivale a 21,2% do bioma ou 22 cidades de São Paulo. Até o dia 1º deste mês, eram 2.200.000 hectares ou 13% de todo o bioma. Ou seja, em 19 dias, mais de 8% foram devastados pelo fogo.

Vale lembrar que um decreto federal, publicado em julho, proibiu queimadas de qualquer tipo em todo o país, por 4 meses (120 dias). Mas, até 21 de julho, o número de focos de queimadas no Pantanal já era o mais alto registrado desde 1998, quando começou a ser feito o monitoramento do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, por meio do Programa Queimadas.

Nesse período, foram registrados 3.415 focos de calor, o que representava alta de 189% comparado ao mesmo período no ano anterior: 1.180 focos.

Foto: Ernane Jr./Divulgação

Ontem, novos dados do Inpe revelaram que setembro já é o mês com o maior número de registros de focos de calor no Pantanal, nos últimos 15 anos. Entre 1º e 23/9, foram observados 6.048 pontos de queimadas. O recorde mensal anterior era de agosto de 2005: 5.993 focos de incêndio.

Comparado aos registros do mesmo mês em 2019, este setembro já apresenta um aumento de 109% no número de queimadas. E ainda faltam seis dias para o mês terminar!

Mas por que não foi possível evitar que essa tragédia acontecesse no bioma reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera, que é a maior planície alagável do planeta e atrai, todos os anos, milhares de turistas do Brasil e do exterior?

Brigada permanente

Foto: Ernane Jr./Divulgação

Um dos fatores que levaram o Pantanal a essa tragédia – sem falar na Amazônia e no Cerrado – é a gestão declaradamente antiambiental deste governo. Mas, neste texto, em vez de focar no que o governo não tem feito, vou contar sobre uma iniciativa que visa oferecer uma solução de impacto para as queimadas em parte do Pantanal, e que pode inspirar muita gente.

Diante da catástrofe ambiental que se abateu sobre o bioma, Angelo Rabelo, diretor de relações institucionais do Instituto do Homem Pantaneiro (IHP), se uniu ao documentarista Lawrence Wahba para buscar soluções. A eles se juntaram ambientalistas, pesquisadores, comunicadores, empresários e organizações de conservação e surgiu a Brigada Alto-Pantanal – que ganhou um nome muito especial: Brigada Haroldo Palo Jr. -, lançada no início deste mês.

O objetivo é criar uma brigada permanente de combate a incêndios na região que abrange a Serra do Amolar, o Parque Nacional do Pantanal e o Parque Estadual Encontro das Águas, no Mato Grosso, de extrema importância para conservação da onça-pintada e geração de recursos por meio do ecoturismo.

Para tanto, o projeto tem, como padrinho, o apresentador Luciano Hulk, que narra o vídeo – que você pode assistir no final deste post – criado para divulgar uma campanha de captação de recursos, via crowdfunding, idealizada por Rabello e Wahba para viabilizar a criação da brigada, sobre a qual comento mais à frente.

Prevenção

Foto: Ernane Jr./Divulgação

“O fogo e a fumaça asfixiam a natureza e toda a economia do Pantanal”, conta Wahba, que faz parte do grupo. “Sofrem o turismo, a pecuária, a pesca e as cidades e, por consequência, toda a população, como ribeirinhos, indígenas e produtores, além dos animais silvestres e o gado”.

Rabelo, que é coordenador do projeto, explica que a ideia de criar a brigada surgiu com a intenção de apoiar o Estado, já que a contratação de brigadistas pelo Ibama e pelo ICMBio acontece apenas entre os meses de julho e dezembro. E, por isso, não há agentes suficientes para atuar em regiões mais remotas e menos habitadas do bioma.

“Este ano, os incêndios começaram em fevereiro. Então, contratamos brigadistas que já tinham experiência, pagando diárias para eles, até que, em julho, o Ibama contratou novas equipes. Assim, nossa proposta é preencher essas lacunas nas quais os brigadistas não estão mobilizados e, ao mesmo tempo, cumprir um papel de prevenção em locais que são de interesse estratégico para a conservação, sobretudo em áreas públicas e distantes das cidades”, declara.

Wahba lembra que, assim que os incêndios começaram a situação do Pantanal se degradou ainda mais. “Nesse sentido, eu e Rabelo começamos a pensar o que poderia ser feito para controlar, já que os focos de fogo tomaram rapidamente uma proporção muito grande, justamente porque ninguém os combate logo no início”. E continua:

“Seguindo a própria estratégia do Prevfogo, do Ibama, que vem capacitando funcionários de fazendas, ribeirinhos e indígenas para as brigadas, se tivermos dezenas ou centenas de brigadas espalhadas por todo o Pantanal teremos mais chances de atuar no combate desde o princípio, evitando que o fogo atinja a dimensão infernal que atingiu neste ano”.

Inspiração

Foto: Frico Guimarães/Divulgação

A ideia da criação da Brigada Alto Pantanal não é só combater o fogo, mas, também, inspirar fazendeiros e outros setores da sociedade a replicar a iniciativa, para que se propague por todo o bioma: a prevenção no lugar do fogo.

Rabelo conta que, desde março, o IHP tem mobilizado brigadas temporárias de combate ao fogo, com recursos doados. No entanto, os focos são maiores que as equipes disponíveis, e se espalham rapidamente.

“O tempo de treinamento e de contratação necessários pode causar prejuízos incalculáveis. Somente com equipes fixas treinadas e equipadas as tristes cenas com macacos, jaguatiricas e onças carbonizadas deixarão de ser rotineiras nos telejornais”.

Brigada Alto Pantanal será uma brigada anti-incêndio profissional composta homens e mulheres treinados, equipados e remunerados que patrulharão as regiões da Serra do Amolar, o Parque Nacional do Pantanal e o Parque Estadual Encontro das Águas.

Arrecadação de recursos

campanha de arrecadação de recursos não se limita a um crowdfunding, mas inclui doações em criptomoedas, materiais e equipamentos. Isto porque a previsão inicial é de que a campanha arrecade recursos suficientes para manter duas unidades com equipes atuando contra o fogo durante a estação seca de 2021 (ou antes, caso necessário). Por isso, qualquer contribuição é bem vinda, a partir de R$ 10. Há quatro plataformas para doações:

1. crowdfunding pela plataforma Catarse.me, com valor mínimo de R$ 10 para doação e meta de R$ 500 mil em 44 dias. No primeiro, arrecadou R$ 4.736. Hoje, 25/9, faltam 35 dias e a campanha já arrecadou R$ 165.229, cerca de 33%;
2. crowdfunding voltado ao público internacional, com meta de US$ 100 mil;
3. doações em criptomoedas aceitas pela plataforma Mercado Bitcoin e
4. doações de equipamentos (como dois barcos, máscaras e Equipamentos de Proteção Individual) ou recursos por empresas que poderão inserir suas marcas nos equipamentos doados.

No caso das empresas interessadas em doar equipamentos ou recursos, o contato deve ser feitos por o email (contato@brigadaaltopantanal.org.br) ou por mensagem via site.

O grupo ainda terá um Comitê Gestor da Brigada formado por um representante do Instituto Homem Pantaneiro, um representante da ONG Panthera Brasil e pelo guia de ecoturismo e liderança comunitária Ailton Lara, que foi convidado devido à relevância de sua atuação diante dos focos de incêndio que assolam o Pantanal.

Durante a live de lançamento da campanha (que você pode assistir no final deste post), Lawrence Wahba contou que Lara abandonou o combate às chamas que ameaçavam sua própria pousada e foi com dois brigadistas combater o fogo no Parque Estadual Encontro das Águas, conhecido por abrigar a maior concentração de onças pintadas (por km2) do mundo.

“Sua frase – a pousada a gente pode construir de novo, mas a vida dos animais não‘ – sintetiza o espírito da iniciativa e o legado de Haroldo Palo Jr.”, destaca o documentarista.

E mais! Há uma campanha dentro desta campanha, que visa ajudar na preservação da fauna pantaneira: 10% do que for arrecadado será destinado à construção de um ambulatório veterinário na Serra do Amolar e outros 10% para a ampliação do ambulatório da ONG Ampara Silvestre, que já presta primeiros socorros a animais vítimas das queimadas na região da Transpantaneira/Porto Jofre.

Parceiros

Para sensibilizar e engajar o público – além de prestar contas dos recursos recebidos e comunicar ações -, a Brigada Alto Pantanal tem perfis no Facebook e no Instagram, que contam com a participação de colunistas como Lawrence Wahba, Angelo Rabelo, a jornalista Cláudia Gaigher e o biólogo e divulgador científico Hugo Fernandes, entre outros especialistas.

Além disso, tem o apoio de artistas como Ingrid Guimarães (que participou da live de lançamento da campanha), o apresentador Luciano Huck (como já comentei), jornalistas ambientais, brigadistas e grandes fotógrafos (como Ernane Jr. e Frico Guimarães, cujas fotos ilustram este texto) que documentaram e documentam a região.

Documenta Pantanal, iniciativa que reúne artistas (como os fotógrafos Luciano Candisani, João Farkas e Araquém Alcântara) e encampa produções culturais, além de apoiar campanhas em prol do bioma, também está entre os parceiros da Brigada Alto Pantanal, “por considerar de fundamental importância o investimento na formação e na capacitação de brigadistas e a mobilização imediata da sociedade para a urgência em conhecer e preservar esse ecossistema”.

Homenagem

O Brasil perde um de suas mais importantes fotógrafos de natureza: Haroldo Palo Jr.

Assim que soube que a Brigada Alto Pantanal foi batizada com o nome de Haroldo Palo Jr., pensei que não poderia haver nome mais perfeito para inspirar tão linda e grandiosa iniciativa. Ele foi um naturalista e documentarista da natureza, que inspirou a maioria dos fotógrafos e documentaristas ligados à conservação ambiental no Brasil. Haroldo nos deixou em 2017.

Apaixonado tanto pela biodiversidade quanto pelo povo do Pantanal, foi Haroldo quem divulgou as belezas deste bioma para o mundo. Tal era sua relevância, experiência e conhecimento na região que, nos anos 80, guiou uma equipe do documentarista Jacques Cousteau (1910-1997).

“Haroldo inspirou nove entre dez fotógrafos e documentaristas de natureza do Brasil”, conta Wahba. “Foi um mestre generoso e quem me apresentou a Rabelo, do IHP, e à jornalista Cláudia Gaigher. Sua dedicação à causa conservacionista em geral e ao Pantanal em particular faz com que esta homenagem seja mais do que merecida”, diz o documentarista, que ainda cita uma frase célebre do homenageado:

“Quando preservamos a paisagem, preservamos todas as plantas e animais que nela habitam, inclusive nós mesmos”.

Abaixo, assista ao vídeo da campanha da Brigada Alto Pantanal e, também, à live realizada em 15 de setembro:

 

 

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