Juiz se declara suspeito e desarquiva ação que pode anular impeachment de Dilma
A ação popular pela anulação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff e pela revogação de atos de Michel Temer, subscrita por mais de 100 mil pessoas, entre apoiadores, lideranças e militantes pró-democracia, teve uma reviravolta. Relator da ação, o juiz federal Itagiba Catta Preta Neto declarou-se suspeito para atuar no caso e anulou sentença que extinguia a ação popular.
Em despacho assinado em 9 de julho, o magistrado considerou que o processo contra o impedimento transitou em julgado, sendo impugnado perante o Supremo Tribunal Federal, que reconheceu a validade da deposição. E que Michel Temer exerceu o mandato até o fim, sendo substituído por um presidente eleito, em exercício do mandato. “Esta ação perdeu o objeto”, sentenciou.
No entanto, dois meses depois, o juiz acolheu embargos apresentados pelo advogado da ação popular, Alexandre Flach Domingues, questionando sua suspeição e a precocidade no julgamento que atropelou etapas. E declarou a nulidade da sentença na qual extinguiu ação a popular.
“Por medida de economia processual, e também a fim de evitar o uso político do Poder Judiciário em lawfare, dou-me por suspeito para o processo e julgamento desta ação, não com base no Inciso I do Art. 145 do CPC, mas com fulcro do § 1º do mesmo artigo”, diz trecho da sentença.
Militante do impeachment
À RBA, Domingues disse que a declaração de suspeição “por motivo de foro íntimo” resulta de um embargo de declaração interposto contra a decisão que extinguia o processo. “Logo no primeiro despacho do processo, em 2018, quando vimos que o juiz seria o conhecido militante ‘Fora Dilma‘, doutor Itagiba Catta Preta, imediatamente entramos com a Exceção de Suspeição, diante da evidente parcialidade do juiz para julgar pedidos que ele notoriamente era contrário”, disse.
No entanto, como a vara em que ele atua temporariamente passou para outro juiz, a suspeição não foi julgada na época. “Mas agora, em 2020, ele mesmo deu a sentença, sem decidir sobre a suspeição. Entramos com os embargos de declaração, e ele então anulou a sentença e se declarou suspeito. Esperamos que o juiz substituto siga a lei processual, citando Michel Temer e abrindo a fase de instrução, para só após, com as provas nos autos, sentenciar”.
Para o advogado, a declaração de suspeição é uma grande vitória. “Afinal, quando Itagiba julgou o caso do Lula na Casa Civil, ele não se deu por suspeito. A nossa expectativa mais pessimista era que ele não iria se considerar voluntariamente suspeito como foi”.
Vitória popular
Militante pela anulação do impeachment, Malu Aires, de Belo Horizonte, disse à RBA que considera a nova sentença vitoriosa para o movimento que coletou 100 mil assinaturas pela anulação do impeachment de Dilma. “Foi graças ao trabalho e à mobilização de pessoas que assinaram a ação popular no Brasil e no Exterior que chegamos a esse resultado, que é uma vitória. Vencer a justiça que faz política nesse país e que levou a esse golpe fascista, genocida e a partir da mobilização popular mostra que a gente pode vencer o golpe”.
Lúcia Reis, do Comitê Volta Dilma, do Rio de Janeiro, disse que esse era o resultado esperado. “Afinal é público que o juiz expressava seu apoio ao impeachment da presidenta Dilma e ao hoje Presidente da República, Jair Bolsonaro. Avaliando que estamos vivendo um processo de golpe no país, não poderíamos permitir que alguém que preste apoio a esse golpe pudesse julgar a presidenta que foi afastada por acusações sem sustentação. A gente vai continuar na luta para o andamento da ação e para que saia vitorioso. A luta contra o golpe tem de ter, necessariamente, essa revisão do processo de impeachment”.
A militante em Brasília do movimento pela anulação do impeachment de Dilma, Cleide Martins, afirmou que a esperança é renovada. “O movimento tem de saber que a luta por justiça é uma causa boa e que sentenças inconstitucionais proferidas por juízes suspeitos podem e devem ser anuladas. Estamos do lado certo do história. Nossa luta provou isso. A nossa história quem fazemos somos nós.”
Fonte: RBA
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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