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Babaçu transforma vida de comunidades tradicionais

Babaçu transforma vida de comunidades tradicionais

A conservação e o uso sustentável dos babaçuais motivaram as comunidades tradicionais agroextrativitas da região do Médio Mearim, no Maranhão, a se unirem para lutar pela valorização do fruto do seu trabalho.

Organizados em cooperativas e associações há cerca de três décadas, os produtores e produtoras, com protagonismo principalmente do saber popular das mulheres quebradeiras de coco babaçu, desenvolveram uma linha de produtos a partir do agroextrativismo que ganhou mercados nacional e internacional.

Do óleo destinado à indústria de cosméticos e alimentação, à torta para ração animal, ao sabonete e à farinha de mesocarpo. São vários os produtos e subprodutos que ganharam até uma marca: “Babaçu Livre”, uma alusão a décadas de luta e resistência dessas mulheres para o acesso aos babaçuais. Este trabalho contou com assessoria técnica da Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (Assema), uma das entidades associadas à Rede Cerrado, e um dos subprojetos apoiados pelo DGM Brasil. Criada pelos agroextrativistas da região, a Assema, que completa 30 anos em maio, desenvolve estratégias voltadas à conservação e ao uso sustentável do babaçu e ao comércio justo. Algumas iniciativas são desenvolvidas em parceria com o Fundo Amazônia.

Entre os diferentes produtos da linha Babaçu Livre, está o sabonete produzido pela Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Lago do Junco e Lago dos Rodrigues-MA (AMTR). A fábrica, localizada nacomunidade de Ludovico, em Lago do Junco, a 300 quilômetros de São Luís, produz cerca de 30 mil sabonetes por ano. “Nosso produto surgiu como forma de resistência à derrubada das palmeiras”, conta Joana Rodrigues Alves. Para chegar onde estão, a luta contra fazendeiros e grileiros, que derrubam as florestas de babaçu, não foi fácil. “Eles diziam que o babaçu não tinha valor, que não servia para nada. Hoje está aí o nosso sabonete”, diz Joana Alves.

Mas era preciso ir mais além da luta contra a derrubada das palmeiras. Era preciso valorizar o trabalho das quebradeiras de coco, saindo das mãos de atravessadores. Mais uma vez, a união rendeu bons frutos.

Foi criada, então, a Cooperativa de Pequenos(as) Produtores(as) Agroextrativistas do Lado do Junco-MA (Coppalj), que passou a comprar a amêndoa do babaçu das quebradeiras de coco e processá-lo para produzir o óleo orgânico. “A cooperativa surgiu em função de uma necessidade de um grupo de pessoas que se sentia explorado pelo atravessador e decidiu produzir para si mesmo”, conta o presidente da Coppalj, Ildo Lopes de Sousa.

As amêndoas são vendidas pelas quebradeiras de coco nas cantinas comunitárias da Coppalj. “Antes da cooperativa, as famílias produziam 10 kg de amêndoas para comprar um 1kg de arroz. Hoje, bastam 2 kg de amêndoas para comprar o 1 kg de arroz. Então temos este marco legal da cooperativa”, afirma Ildo de Sousa.

No mês em que comemorou 28 anos de fundação, em abril deste ano, a Coppalj inaugurou sua unidade de produção de óleo de babaçu orgânico refinado, visando atender à alimentação. Até então, a cooperativa produzia o óleo filtrado, atendendo aos mercados nacional e internacional da indústria de cosméticos. A nova unidade, com capacidade para processar até 2000 kg/h, é fruto de um projeto em parceria com o governo do Estado, por meio da Secretaria de Agricultura Familiar (SAF-MA), com aAssema. É a Coppalj quem fornece o óleo para a fábrica de sabonete de babaçu da AMTR. Fornece ainda para grandes indústrias de cosméticos como Natura, Loreal, Body Shop, Companhia Gustav Heess (Alemanha), entre outras.

Outro subproduto do babaçu utilizado tradicionalmente na alimentação, como em bolos, mingau e biscoitos, a farinha de mesocarpo também despertou o interesse da indústria de cosméticos.

Só este ano, a Coopaesp (Cooperativa de Produtores Agroextrativistas de Esperantinópolis-MA), uma das grandes produtoras de mesocarpo da região do Médio Mearim, produzirá cerca de 11 toneladas do produto, dos quais nove toneladas visam atender à indústria da beleza. “Este ano nós retomamos as negociações com a Atina que também trabalha na linha de cosméticos”, diz Ricardo Araújo, técnico do Programa de Comercialização Solidária da Assema. Entre os clientes da Coopaesp estão a Natura e a Atina Ativos Naturais, empresa que trabalha com ingredientes naturais. É importante destacar que todos os outros produtos, incluindo a farinha, são frutos do conhecimento tradicional das quebradeiras de coco babaçu.

A Rede Cerrado conta com o apoio do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF, na sigla em inglês para CriticalEcosystemPartnershipFund) e do DGM Brasil – Mecanismo de Apoio Dedicado a Povos Indígenas, Comunidades Quilombolas e Comunidades Tradicionais do Cerrado Brasileiro. Para saber mais, acesse: redecerrado.

 Reportagem produzida por Franci Monteles, assessoria de imprensa da Assema (Inspirar Inovação e Comunicação).

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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