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Dolores Ibárruri -La Pasionaria

Dolores Ibárruri -La Pasionaria

«¡Para vivir de rodillas, Es mejor morir de pié

Por Iêda Vilas Bôas

Isidora Dolores Ibárruri Gómez, conhecida como La Pasionaria foi uma valente e destemida mulher espanhola, uma política e líder revolucionária comunista de origem basca. Nasceu em Gallarta, na província basca de Biscaia, em 09 de dezembro de 1895 e morreu em Madrid, em 12 de novembro de 1989.

Muito jovem, aos 21 anos de idade, em 1918, casou-se com Julián Ruiz, a contragosto de seus pais, que não aprovavam as ideias socialistas do futuro genro. Nesse mesmo ano, nasce sua primeira filha, Esther, que morre ainda bebê. Teve outros filhos: em 1920 nasce Rubén e em 1923 dá à luz a trigêmeas, das quais somente uma sobrevive, Amaya.

Talvez pelas atividades políticas, mas o casamento chega ao fim. O fato de Júlian ter se tornado um pai ausente pesa bastante em sua decisão. Teve seis filhos, mas somente dois sobreviveram. Ruben tornou-se piloto de combate na Rússia e tombou em combate.

Dolores costumava andar sempre com roupas de cor preta, num luto permanente pela morte das pessoas queridas. Através da escrita, Dolores difunde seus ideais. Era excelente escritora e oradora. Seus textos publicados nos panfletos e boletins do Partido influenciavam e incitavam grandes massas. 

Nesse ano de rupturas, perdas e recomeços ela escreve seu primeiro artigo assinando sob o pseudônimo de La Pasionaria (a “flor-da-paixão”, ou Passiflora incarnata), que a acompanharia a vida toda. Dolores era mesmo assim: apaixonada, sensível às dores dos sofridos, dos excluídos, dos oprimidos. Era toda ela repleta de amor à humanidade. Os operários chamavam-na de mulher abençoada.

Nesse tempo inicia sua militância comunista. Em 15 de abril de 1920 filia-se ao Partido Comunista Espanhol e, após, no seu sucessor, o Partido Comunista de Espanha, no qual ficaria por toda a sua vida, tendo passado a presidir o PCE a partir de 1960.

Dolores tornou-se célebre por sua atuação durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Escrevia e discursava instigando os republicanos contra as tropas do General Franco com o apelo: «¡Para vivir de rodillas, Es mejor morir de pié!» e «¡No pasarán!» – “Para viver de joelhos, é melhor morrer de pé!”.

É sua também a famosa frase: “Não passarão!”. Também faziam parte de seu discurso: “Más vale matar a cien inocentes que dejar escapar a un solo culpable” e “É melhor ser a viúva de um herói, que a mulher de um covarde!”. Debalde sua luta, Franco vence, em 1939 e para não ser fuzilada como outros mártires e insurgentes, exilou-se na Rússia, antiga URSS. 

Regressa à Espanha em 1977, após a morte do General. Foram 38 anos de exílio, durante os quais, a revolucionária não descansou. Prosseguiu firmemente em sua vida política e foi eleita deputada ao Congresso dos Deputados, a câmara baixa das Cortes, e permaneceu líder honorária do Partido Comunista de Espanha até a sua morte.

Amada e admirada, La Pasionaria é reconhecida como heroína da República Espanhola. A camarada Dolores denunciava em nome do Partido Comunista o oportunismo e a traição dos dirigentes socialdemocratas e anarquistas no movimento operário, mantendo bem alto os princípios do marxismo-leninismo sobre as classes e a luta de classes, sobre o caráter da revolução naquela etapa e sobre a aliança da classe operária com os camponeses. Ela trabalhava incansavelmente pela unidade da classe operária. Por sua luta e seu exemplo, La Pasionaria é símbolo da luta pela paz e independência nacional.

Sob seu comando, à frente do PCE, conclamava a classe operária, o povo espanhol, a deter os avanços do fascismo, lutando constantemente pela unidade operária e das forças antifascistas. Dolores foi detida e presa inúmeras vezes, ficando encarcerada durante 10 meses em Madri e, depois, transferida para Bilbao, onde recusou advogado e defendeu-se, brilhantemente, ela mesma. Desde os primeiros anos de sua atividade política, Dolores realizou um esforço incansável para ajudar a organizar as mulheres trabalhadoras. Em 1933, a camarada Dolores Ibárruri criou os Grupos de Mulheres Antifascistas.

Morreu no dia 12 de novembro de 1989, aos 94 anos. Não lhe faltaram homenagens. Entre a multidão escutou-se a voz chorosa de Julio Anguita (camarada do PCE):

“… Dizem, Dolores, que morreste! Que asneira! Vives em cada um dos que te amam, e são tantos! Comunista exemplar, és de todos: de todos que levantam o punho, de todo o povo; tu ensinaste que o Partido não se organiza para si próprio, mas para todos os oprimidos. Que exemplo para mulheres e homens, mulher cheia de ternura e de firmeza. Fecha os olhos e sonha com o teu povo! Dorme, companheira Ibarrúri! Repousa, camarada Pasionaria.” Por sua vida e luta, salve La Pasionaria!

DISCURSO PRONUNCIADO NO MONUMENTAL CINEMA DE MADRID

Em 8 de Novembro de 1936

Trabalhadores, camaradas: Quando os obuses [arma de artilharia] do inimigo começam a derrubar as casas de nossa cidade; quando sobre o céu da capital da República voam aviões fascistas, metralhando mulheres e crianças indefesas, parece inacreditável vir prestigiar um ato dessa natureza.

E isso não é necessário para levantar seus espíritos, que bem agitados os tens através de dias de lutas inenarráveis, senão para afirmarmos que estamos aqui e que não nos fomos. Que estamos aqui junto a vocês, como sempre estivemos, e dispostos também a cumprir com o dever de agradecer, a partir da Madrid inconquistável, à União Soviética, ao país soviético, sua solidariedade para com nosso povo e sua defesa da República em Genebra.

Desde aquele país, nos diz o heroico povo soviético – que soube vencer não somente o inimigo interior, mas também o inimigo exterior – e as mulheres nos gritam: irmãos espanhóis, estamos com vocês! Graças a essa solidariedade nos sentimentos mais seguros; não nos sentimos sozinhos e podemos dizer ao inimigo que Não Passará! (…).

(…) O fato de que haja tantas mulheres nesse comício nos permite, sem temer nos equivocarmos, proclamar com orgulho que não se extinguiu a tradição heroica das mulheres espanholas que, em todos os momentos em que esteve ameaçada a integridade da pátria, estiveram junto a seus companheiros e com eles souberam lutar e morrer.

E por isso nos sentimos profundamente orgulhosos e seguros da vitória. Porque uma causa que defendem as mulheres e as mães, apesar dos contratempos da luta, será sempre uma luta vitoriosa.

Desta mesma tribuna dissemos que tínhamos o necessário para começar a ofensiva. Depois, um dia dissemos: camaradas, temos que resistir aos embates do inimigo dois, três, quatro, oito dias, os que sejam necessários. Resistiram, resistem, e Madrid se fez inconquistável.”

Iêda Vilas-Bôas – Escritora. Presidenta da Academia de Letras do Nordeste Goiano – ALANEG.

NOTA DA REDAÇÃO: Este texto, da escritora Iêda Vilas-Bôas, foi publicado originalmente em 12 de dezembro de 20021. Iêda partiu para o mundo dos encantados em 8 de abril de 2022. Para honrar sua memória, no primeiro aniversário de seu encantamento, republicamos parte dos textos memoráveis que IVB, como ela gostava de ser chamada,  publicou na nossa Revista Xapuri. Este é um deles. Paz e Bem. 


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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